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By Ferramentas Blog

segunda-feira, 6 de junho de 2011

HOMILIA PARA A ORDENAÇÃO EPISCOPAL

 
DE DOM BENEDITO ARAÚJO
EM SÃO LUIS DO MARANHÃO
DIA 04 DE JUNHO DE 2011 - NA ASCENSÃO DO SENHOR
- Exmo Sr Arcebispo de São Luiz do Maranhão e Vice Presidente da CNBB, Dom José Belisário da Silva;
- Exmo Sr Presidente desta celebração de Ordenação episcopal, Dom Xavier Gilles de Maupeou d´Ableiges, bispo emérito de Viana, através de quem saúdo todos os Senhores Arcebispo e Bispos aqui presentes, todos os presbíteros, os diáconos, as religiosas, os seminaristas e as vocacionadas;
- Excelentíssimas Autoridades civis, militares e de outras famílias religiosas,
- Prezados irmãos Leigos e Leigas do povo de Deus, de nossas comunidades, movimentos e serviços...
- Querida Mãe do Ordenando, Dona Maria do Socorro, queridos irmãos, irmãs, sobrinhos, parentes e amigos do ordenando, - Querido Monsenhor Benedito Araújo, logo mais bispo Coadjutor de G. Mirim,
No dia 04 de outubro de 2010, no final da audiência particular,o Santo Padre, Bento XVI me disse: “Vamos rezar para que o senhor tenha um bom bispo coadjutor”!
No dia 23 de Março, quando Roma anunciou a nomeação do bispo coadjutor de Guajará-Mirim, recebi a seguinte mensagem de um leigo de São Luiz do Maranhão:
Dom Geraldo, hoje, ao ser anunciado o nome do meu amigo, Pe Benedito Araujo, lhe asseguro: Guajará-Mirim terá um ótimo bispo coadjutor. Ele é dinâmico, alegre, simples e prega a Palavra com o dom que recebeu. Nossa Paróquia de Na Sra de Nazaré perde um ótimo pároco, mas sua Igreja ganha um grande presente para seu povo. (William de Sá Uchôa).
Realmente, querido Mons. Benedito, sua nomeação é “um grande presente de Deus para a nossa Igreja”! Há meses, aliás, que preparamos este evento com muita oração! Agora mesmo, graças à Rede Vida de televisão e às várias emissoras de rádio, inclusive a Radio Educadora de G. Mirim, um povo imenso acompanha com alegria e preces fervorosas a sua ordenação episcopal.
Ela está sendo realizada na Festa da Ascensão do Senhor, quando Jesus sobe para o Pai, deixando sua clara mensagem a seus apóstolos e aos discípulos do mundo inteiro: “Recebereis o Espírito Santo para serdes minhas testemunhas, até os confins da terra. (At 1,8) “Ide e fazei discípulos meus todos os povos...Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28, 19-20).
No documento da 49ª Assembléia Geral dos Bispos, em Aparecida:“Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, preparado com esmero pelo Sr Arcebispo Dom Belisário e sua equipe, podemos ler esta linhas vibrantes:
“Quem se apaixona por Jesus Cristo, deve igualmente transbordar Jesus Cristo no testemunho e no anúncio explícito de sua Pessoa e Mensagem. A igreja é indispensavelmente missionária! Fechar-se à dimensão missionária implica fechar-se ao E.S, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (Jo 14,16; Mt 10, 1920)”. “Em toda a sua história, a Igreja nunca deixou de ser missionária... Se hoje partilhamos a experiência cristã, é porque alguém nos transmitiu a beleza da fé, apresentou-nos a Jesus Cristo, acolheu-nos na comunidade eclesial e nos fascinou pelo serviço ao Reino de Deus.” Nº 30 ( Fim de citação)
Os primeiros apóstolos de nossas Igrejas missionárias eram homens e mulheres apaixonados por Cristo e fascinados pelo serviço do Reino. Vale a pena descobrir a figura de um bispo de Cuiabá, justamente natural de São Luiz do Maranhão, Dom Carlos Luiz d´Amour. Foi ele que acolheu os primeiros Franciscanos da Terceira Ordem Regular (TOR), vindos da França. Dom Máximo Biennès, bispo TOR de São Luiz de Cáceres/MT escreveu em seu livro “Missão Franciscana na Fronteira”(p31 Paulus 1994).:
“Estamos no dia 19 de agosto de 1904. O povo e o bispo D. Carlos Luis d´Amour esperam a lancha que traz um grupo de padres e religiosas franceses. Logo que a embarcação encosta no cais, o bispo sobe e saúda os novos missionários. Frei Ambrosio Daydé, superior dos religiosos, comenta: «Ansiávamos por conhecer Dom Carlos Luis d´Amour, de quem tanto falam, em bem e em mal! Ficamos encantados pela bondade e gentileza de Sua Excelência. Nossa chegada é para ele alegria, vida, ressurreição... Quando penso que este Bispo sustentou, sozinho, durante mais de vinte anos, uma luta terrível, nesta diocese de Cuiabá, quase sem padres, sem secretariado, obrigado a fazer as vezes de sacristão e de porteiro, fico admirado e edificado!» ( fim de citação).
São estes mesmos franciscanos TOR que, em 1932, fundaram a Prelazia de Guajará-Mirim, com um jovem Prelado de 29 anos, Mons. Francisco Xavier Rey. Uma alma de fogo! Tão logo nomeado, partiu de São Luís de Cáceres, com sua mochila de roupas, sem um tostão no bolso, apenas com fé e coragem! Andou com 2 companheiros 400 km a cavalo até Vila Bela de Mato Grosso; depois, pegaram a lancha a roda do Governo, e desceram 1500 km pelos rios Guaporé e Mamoré, até G. Mirim. Na primeira carta ao Superior Geral, Mons. Rey escreveu:
“No ano passado, em São Luiz de Cáceres, o senhor nos dizia que era preciso ser `homens de grandes desejos´. Isso não nos falta realmente. O mais duro, às vezes, é sentir-se impotente para realizar tudo aquilo que a gente desejaria. Lembro-me então de São Francisco de Assis que, sem nenhum recurso, gritava ao mundo: “o amor não é amado’! Queira ele nos comunicar nem que seja uma faísca deste fogo divino que o consumia e todas as dificuldades, aos poucos, irão se resolvendo. “Se o senhor encontrar vocações, e devem existir, estarão em seu lugar entre nós: aqui tudo é novo, tudo é grande, tudo é feito para satisfazer os corações mais generosos”.
Quando, em 1935, o Papa Pio XI recebeu Mons. F. Xavier Rey, o papa, impressionado pela sua juventude, lhe disse paternalmente: “O senhor está nos postos avançados da Igreja, numa das missões mais duras do mundo!”
Com 13 anos de idade, tive o privilégio de conhecer Dom REY, por ocasião de sua visita em nosso colégio de Ambialet, no sul da França. Ficamos fascinados pelo seu testemunho de vida missionária. Falou-nos com tanto amor do Vale do Guaporé, dos índios, dos seringueiros, dos ribeirinhos e da falta de padres para atender essas comunidades abandonadas, que pensei: “se um dia eu for padre, é em Guajará-Mirim que irei!”, para seguir as pegadas dos missionários como ele, como seu sucessor Dom Roberto Gomes de Arruda, matogrosssense, que viveu seus últimos anos com os Índios Oro-Wari, recolhendo mitos e lendas deles, e pedindo para ser enterrado no pequeno cemitério de Sagarana, em plena mata amazônica! E como as admiráveis Irmãs Calvarianas, oriundas de Gramat, no sul da França, que perderam, em três dias, vítima de hepatite fulminante, a jovem Irmã paulista Maria Agostinho Righetto, quatro meses depois da chegada da comunidade em G. Mirim. A Superiora Geral quis fechar a casa por “estar numa missão dura demais!” Mas as Irmãs não aceitaram e permaneceram com o povo que já as amava... e até hoje!
Querido Mons. Benedito, o senhor deixa um torrão natal repleto de riquezas familiares, eclesiais, culturais... É um grande sacrifício! Pessoalmente, não tenho dificuldade em imaginar a sua emoção nesta hora em que você ouve e atende à ordem do Senhor (Gen 1,2): “ Parte da tua terra, da tua família e da casa de teus pais para a terra que te mostrarei”... lá nos confins do Brasil com a Bolívia”! Entendo perfeitamente, pois a 11 de maio de 1965, na frente do navio que ia me levar da França para o Brasil, numa travessia de 16 dias, senti certa angústia. O Padre amigo que sempre acompanhou minha vocação estava a meu lado. Abri-lhe o coração e ele me respondeu: “Estou com medo que um dia você ame tanto o Brasil e se faça tantos amigos por lá, que não queira mais voltar para a França”! E a profecia se realizou! Querido Mons. Benedito, não desejo mais voltar para viver na minha terra de origem. Aqui está a minha casa, a minha família, o meu povo amado. Ficarei como humilde missionário no cantinho da diocese que o senhor me propuser!
“Dilata locum tentorii tui” - Alarga o espaço de tua tenda (Is 54,2), é o lema de seu brazão.
“A tenda, é o lugar do encontro e reconhecimento da grandeza, ternura e compaixão de Deus que fez aliança conosco”. Sem esta paixão por Deus e este fascínio pelo seu Reino, não se entende a nossa vocação missionária.
“ A tenda, continua o senhor, é também espaço de acolhida do mistério do outro”! Ser ordenado bispo não é uma promoção, mas é uma maior encarnação. Na Amazônia as distâncias podem ser um obstáculo, em realidade elas são uma aproximação: na mesma embarcação, sulcando lentamente as águas dos rios, nos mesmos ônibus, nas mesmas linhas ou pistas de terra, sempre vivendo ao ritmo e ao contato das pessoas. É uma chance, pois a Boa Nova se difunde por capilaridade, ela passa pela multiplicidade desses contatos com os feridos e machucados da vida. Por isso é muito importante a acolhida do mistério dos Índios, caros índios Oro Wari de Sagarana, e todos os outros de outras tribos, primeiros filhos desta terra onde vivem há 3.000 anos ou mais, ainda desprezados, lutando por seu espaço e por sua cultura, necessitando de sua amizade e solidariedade; acolhida dos migrantes do sul do país ou do nordeste que reconstruíram sua vida na Amazônia, com sofrimento e coragem. Quando assumi a diocese, em 1980, havia apenas 4 paróquias e 5 padres por 90.000 km2 de superfície. Agora são 12 paróquias, todas elas formadas por migrantes vindos de outras dioceses. Ofereceram-nos líderes atuantes e vocações sacerdotais e religiosas; acolhida dos “sem terra” sofrendo com paciência, durante anos à beira das estradas, organizando-se em comunidades cristãs (batizei e crismei 15 jovens e adultos dos Sem Terra em Seringueiras, em novembro passado). Quero partilhar minha tristeza com todos vocês pelo assassinato de um líder dos Sem Terra, amigo nosso, Adelino Ramos, sobrevivente do massacre de Corumbiara, em nossa diocese, há 14 anos! Quarto assassinato num mês! -Acolhida dos ribeirinhos, ameaçados pelas grandes barragens, dos quilombolas do Vale do Guaporé que nos trouxeram do Mato Grosso a belíssima e muito concorrida festa do Divino; acolhida dos presos, pequenos traficantes de droga, enquanto os grandes largam os seus volumosos pacotes de “pasta” por via aérea e permanecem impunes; acolhida dos seminaristas, vocacionadas, e de nossos preciosos colaboradores imediatos, os presbíteros: eu tinha em 1980 5 padres para 90.000 km2 de chão; agora são 22 padres, entre eles, os 5 primeiros sacerdotes diocesanos, e os dois diáconos que ordenaremos sacerdotes juntos, nos próximos dias 17 e 24 de julho deste ano; - enfim acolhida dos jovens, dos idosos, dos enfermos e de todo o querido povo de Deus que o senhor vai conhecer pelo nome e amar como um bom pastor.
No dia de sua ordenação, o bispo recebe um anel, uma aliança. O sinal é belo, pois se trata realmente de um casamento, vivido dia após dia, nas alegrias, preocupações, decepções, realizações e esperanças. Casamento de amor, - a palavra não é forte demais- , pois ela exige uma fidelidade absoluta ao Deus Amor e a fidelidade a um povo concreto, que lhe é confiado pela Igreja. São Francisco de Sales resume esta fidelidade ao Senhor e a o povo em poucas palavras: “Quando me tornei bispo, Deus me tirou de mim mesmo, Me levou Consigo, E me doou ao povo!”
Conclusão:
Querido Mons. Benedito, daqui a pouco faremos o belo gesto tradicional da imposição das mãos. Antes quero lhe oferecer esta oração de São João Damasceno, (675-749), intitulada:
ORAÇÃO DE UM PASTOR AO BOM PASTOR
“Senhor, alivia o pesado fardo dos meus pecados que Te ofenderam;
Purifica o meu espírito e o meu coração.
Guia-me por caminhos retos como uma lâmpada que me ilumina.
Dá-me a coragem de propagar a Tua palavra.
Que a língua de fogo do Teu Espírito (At 2,3)
Me dê uma língua perfeitamente livre,
E me torne sempre atento à Tua presença”.
“Sê o meu Pastor, Senhor,
E sê comigo o Pastor das Tuas ovelhas,
De modo que o meu coração não se desvie
Nem para a direita nem para a esquerda.
Que o Teu Espírito me dirija pelo caminho reto,
De modo que as minhas ações se realizem
até o fim, segundo a Tua vontade”.
(São João Damasceno - Exposição da fé ortodoxa).
E termino confiando o seu ministério episcopal à Padroeira da Diocese de G. Mirim, NOSSA SENHORA DO SERINGUEIRO:
Ó Virgem Imaculada, Senhora do Seringueiro,
Consoladora dos aflitos e oprimido
À vosso proteção recorremos.
Imploramos, confiantes, a vossa intercessão Maternal.
Dai-nos alento na caminhada desta vida,
E coragem na construção de um mundo
Mais justo solidário e fraterno
Sinal do Reino do vosso amado Filho
Que, com o Pai e o Espírito Santo,
Vive e reina pelos séculos.
Amém
Dom Geraldo Verdier
Bispo Diocesano de Guajará-Mirim-Ro

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